Vagabundo, eu?


Existem muitos estereótipos que, por vezes, atrapalham a vida de um músico popular. Um deles se trata da noção de que "músico é vagabundo". Trata-se de um preconceito, e, como tal, advém de um profundo desconhecimento da profissão musical. A manutenção da ideia da vagabundagem como elemento inerente ao músico ou à musicista se dá por inúmeros fatores.



Em geral, os músicos que se apresentam ao vivo geralmente o fazem em momentos em que o público está em seu momento de lazer. Daí, ao ver corpos de músicos se requebrando e sorrisos abertos, muitas pessoas tem a falsa ideia de que os músicos estão se divertindo. Aliás, eles podem também estar se divertindo, mas ao momento da apresentação precedem inúmeras horas de estudo, ensaio, negociações, burocracias, divulgação... E, como muitos músicos ingerem bebiba alcoolica enquanto estão tocando, aí é que se tem a impressão de que aquilo ali é puro lazer, esforço nenhum, diversão.


Mesmo quando alguém encara a música como um passatempo, o que, aliás, é muito interessante, ainda assim não se tem muita noção do que é ser profissional. Um dia desses, por exemplo, recebi um telefonema de um músico amador, que, ao me ver num canal de televisão, me parabenizou e desejou sorte para mim, "tanto no trabalho, como na música". Percebemos nessa fala a ideia de que música não é trabalho; trabalho é coisa séria, dá dinheiro, tem horário definido de expediente. Música não, música é lazer, entretenimento, brincadeira, bebedeira, farra.


A música como elemento de diversão e hobby traz muitos benefícios na vida de quem quer aprender a tocar um instrumento para tocar numa rodinha de amigos, por exemplo. Mas, ser músico profissional é outra história. Quem já é profissional ou tem interesse de se profissionalizar precisa ter consciência de sua importância, de seu trabalho, saber cumprir horários, estudar e ensaiar muito, frequentar workshops, se privar de muitas coisas, estar disposto a repetir a mesma música trocentas vezes, treinar o ouvido, usar o metrônomo. O metrônomo, o bendito metrônomo!

Comentários

Sara Miranda disse…
Lindo!! Ad+ vgabundo é recorrente,adorei seu texto, essa ideia de músico = vagabundo é comum, assim como o é quando alguém escreve, e se u cara disser, sou poeta, aí é que ninguém dá crédito. Acredito na importância das artes! Belo Texto, belo trabalho! Parabéns!!
Mari Schéfer disse…
Olá, como vc tb trabalho com música, sou cantora, e dela tiro o sustento da minha família. Achei muito bom o seu texto, vai exatamente de encontro com aquilo que eu penso. Parabéns pelo blog! Vou indicá-lo no meu blog.

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